A cultura maker parte do pressuposto de que todas as pessoas são capazes de construir seus próprios objetivos, sejam eles palpáveis ou não. É um conceito cada vez mais presente em redes sociais e outros tipos de mídia de comunicação.
Certamente, você já deve conhecer a ideia de “Faça Você Mesmo” e é justamente a partir dela que surge esse conceito, que tem ganhado espaço em diversos setores da sociedade, inclusive na educação.
Apesar da era tecnológica na qual vivemos, em que praticamente tudo pode ser feito por meio de uma máquina, tem-se a cultura maker como um método eficiente de aprendizagem.
Mas esse não é um conceito exclusivo dos dias contemporâneos. Na verdade, estudos mostram que ele começou a surgir no fim da década de 1960, juntamente com o movimento punk. Mas falaremos disso no decorrer dos tópicos seguintes.
Se quiser saber mais sobre a cultura maker e sobre como ela pode auxiliar na educação do seu filho, acompanhe nosso artigo de hoje e conheça esse movimento.
Afinal, o que é a cultura maker?
A cultura maker é um conceito que defende que todas as pessoas têm o poder de criar ou consertar coisas para uso próprio. Assim, a partir dessas criações, torna-se possível o aprendizado.
Basicamente, esse movimento parte do princípio de que, para aprender algo, é preciso entrar em ação e desenvolver a teoria na prática.
De maneira mais aprofundada, esse conceito estimula as pessoas a resolverem seus próprios conflitos com base em criações originais. Envolve a criatividade, a estratégia e a tecnologia.
Como dissemos anteriormente, as raízes dessa cultura teriam surgido com o movimento punk, no final da década de 1960. Nesse momento cultural, difundia-se o Do it Yourself (DIY), o famoso “Faça Você Mesmo”, que ainda está muito presente nas mídias atuais.
O DIY tinha tudo a ver com o punk, afinal ambas as ideias pregavam a ausência de regras ou a criação das próprias regras.
Contudo, foi apenas em 2005 que o conceito de cultura maker foi difundido oficialmente. Isso aconteceu com a publicação da chamada Revista Make. Um ano depois, houve o primeiro evento de criadores, no qual os pilares do movimento foram definidos.
Os pilares da cultura maker:
- Criatividade: para criar soluções para os conflitos do dia a dia, é preciso “pensar fora da caixa” e, para isso, a criatividade é imprescindível. Ela está baseada em transformar o que se imagina em realidade;
- Colaboração: esse pilar prova que esse conceito também envolve o trabalho em equipe. Isso porque é possível haver várias soluções para um mesmo problema, então vale a pena considerar outros pontos de vista na hora da criação;
- Escalabilidade: a escalabilidade é a capacidade de se criar algo em larga escala, porém a um custo baixo;
- Sustentabilidade: esse é o pilar mais relacionado à ideia de Faça Você Mesmo, já que visa o reaproveitamento, o reparo, a reciclagem e a reconstrução. Assim, é possível evitar o desperdício, além de colaborar com o meio ambiente.
A cultura maker na educação
Apesar de não ser um conceito atual, a cultura maker na educação começou a ganhar espaço nos últimos anos. Dez anos após a publicação da Revista Make, já havia comunidades inteiras focadas no movimento.
Foi nesse momento que surgiu a ideia de levar o conceito também para a educação.
Na prática, a aplicação desse movimento na educação está relacionada à transformação do espaço físico, ou seja, das escolas e salas de aula. A ideia é que o método tradicional de ensino também seja revolucionado. Tudo para incentivar o aprendizado dos alunos.
Mas isso não quer dizer que a parte teórica deve ser deixada de lado. Na verdade, a teoria e a prática devem se complementar. A melhor parte é que a cultura maker pode ser aplicada em todas as áreas da educação e em todas as disciplinas, obrigatórias e extracurriculares.
Esse movimento na educação está baseada em outros métodos educacionais. Por conta disso, é um movimento tão amplo e completo. Na sequência, falaremos mais sobre os dois principais métodos educacionais nos quais o movimento se baseia.
Construtivismo
Esse é um método criado por Jean Piaget (1896-1980), biólogo, psicólogo e epistemólogo da Suíça. Em 1920, Jean Piaget postulou que os processos de conhecimento e de aprendizagem da criança estão intimamente relacionados com a interação dela com o meio que a cerca.
No construtivismo, o aluno é o protagonista e o professor é o mediador. O que vai contra o método de ensino convencional, em que o professor é o protagonista e os alunos são meros coadjuvantes.
Jean Piaget considera o aluno como um personagem ativo no próprio processo de aprendizagem. No mais, ele também incentiva a interação com o meio e a contínua investigação do ambiente.
Construcionismo
Dando continuidade, o segundo método educacional é o construcionismo. A princípio, o construcionismo foi criado por Seymour Papert (1928-2016), matemático e educador dos Estados Unidos.
O construcionismo baseia-se na ideia de que a aprendizagem deve ser estimulada por ações que vão gerar um produto. No caso, o produto pode ser qualquer tipo de resultado: artigo, obra de arte, apresentação de slides, pôster…
Em suma, os alunos devem procurar meios de atingir um objetivo. Então, eles são os responsáveis pelo processo de aprendizagem e de desenvolvimento intelectual.
A importância da cultura maker
Antes de mais nada, o principal objetivo da cultura maker é tornar as pessoas mais proativas e autônomas. A independência faz com que elas saibam lidar com os conflitos de uma forma mais prática.
Na educação, esse movimento transforma o método de ensino e de aprendizagem, fazendo com que os alunos consigam adquirir conhecimento investigando, criando e praticando.
Conforme os quatro pilares da cultura maker, os alunos colocam em prática o trabalho em equipe, o pensamento crítico, a sustentabilidade, a criatividade e muitas outras ações.
É claro que não poderíamos deixar de falar que esse movimento na sociedade, principalmente nas escolas, torna a aprendizagem democrática. Isso porque não são todas as pessoas que conseguem acompanhar o método de ensino convencional.
Nesse sentido, esse conceito na educação proporciona não apenas uma evolução no sistema de ensino, mas também estimula a vontade de aprender dos alunos e quebra a limitação dentro das salas de aula.
Num contexto mais amplo, a cultura maker traz possibilidades. No empreendedorismo, por exemplo, pequenas empresas conseguem se equiparar a empresas maiores. Tudo porque a cultura maker incentiva as soluções criativas.
As vantagens da cultura maker
Para começar, as principais vantagens da cultura maker têm relação com o engajamento, pensamento crítico e protagonismo.
Engajamento
O engajamento é muito importante tanto na esfera corporativa quanto no meio da educação. Engajar significa despertar a atenção nas pessoas, bem como manter esse interesse.
Na educação, o engajamento faz com que até os alunos mais desinteressados sejam estimulados a aprender de maneiras diferentes. Dessa forma, desperta a motivação nos estudantes, fazendo com que eles se interessem, de fato, pelo que está sendo proposto em sala.
Pensamento crítico
O pensamento crítico é de suma importância para a formação de cidadãos. Atualmente, muitas opiniões são predefinidas ou facilmente manipuladas, sendo de extrema necessidade que as pessoas saibam exercitar o pensamento crítico.
Nesse sentido, o pensamento crítico exige que as pessoas busquem investigar e questionar situações para formularem opiniões e ideais. Assim, a pessoa maker consegue se desvincular de ideias pré-moldadas e pode partir de suas próprias ações em resposta aos conflitos.
Vantagens da cultura maker nas salas de aula
Evidentemente, esse movimento promove uma série de vantagens, não importa em qual setor da sociedade ela é aplicada. Todavia, esses benefícios se destacam na área da educação. Conheça cada uma das vantagens a seguir.
- Ensino dinâmico: o movimento maker acaba com a ideia de ensino convencional, que desmotiva muitos estudantes. Assim, promove o aprendizado por meio de ações práticas e estimulantes;
- Reconfiguração do papel do professor: como dissemos anteriormente, nesse movimento, o professor deixa de ser o protagonista da sala de aula para dar a chance aos alunos de participarem de modo mais ativo. Assim, possibilita aos estudantes a tomada de decisões e a criação de novas formas de aprender;
- Ampliação das possibilidades de aprendizagem: a ideia é aliar a teoria à prática. Então, não quer dizer que os alunos devem deixar os livros e textos de lado, mas sim incluir outros tipos de artifícios para contribuir com o aprendizado, como a experimentação, a criação, a intervenção;
- Desenvolvimento criativo e intelectual: essa cultura incentiva a formulação de ideias inovadoras. Para o mundo, as inovações são importantes para a criação de novas soluções e podem contribuir para o desenvolvimento científico-tecnológico;
- Mais diálogo e tolerância: a pessoa maker torna-se alguém mais disposto a conversas e à troca de informações. Então, esse conceito melhora o diálogo entre os alunos e forma cidadãos mais tolerantes;
- Educação ambiental: um dos pilares é a sustentabilidade, intimamente relacionada ao cuidado com o meio ambiente. Evidentemente, há o envolvimento com conceitos de educação ambiental, que acabam despertando a consciência ambiental nos alunos.
Enfim, como é possível notar, a cultura maker na educação faz toda a diferença no aprendizado, na interação entre os alunos e na formação de pessoas mais proativas. Portanto, vale a pena dar uma chance para esse movimento.
Como aplicar a cultura maker com os estudantes
Antes de tudo, a aplicação dessa cultura requer toda uma estratégia. Afinal, trata-se de uma nova forma de ensinar e não tem relação apenas com os alunos, mas também com os professores. Em outras palavras, os professores, gestores e outros educadores devem ter pleno conhecimento e treinamento.
Com toda a equipe preparada, é possível unir a cultura maker à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Todavia, também é possível acrescentar novas disciplinas, como aquelas que são extracurriculares.
A escola pode trabalhar na criação de novos espaços que utilizam a tecnologia, como laboratórios ou outras áreas para experimentações e demais atividades práticas.
Mas não pense que o movimento maker está associado apenas à tecnologia, que costuma requerer altos investimentos. Na verdade, a inserção desse conceito na educação também pode estar associada a atividades mais acessíveis.
Tanto que é possível aplicar o movimento maker no dia a dia, dentro da própria sala de aula. Então, realmente trata-se de uma mudança possível, que não exige investimentos altos e consegue se adequar ao orçamento.
Atividades para fomentar a cultura maker
A princípio, o professor deve estudar a disciplina para entender quais conceitos do currículo pedagógico podem ser trabalhados de maneira prática. Ao mesmo tempo, é preciso ter uma estratégia predefinida para aplicar a prática à parte teórica.
Só para exemplificar como funciona a cultura maker na prática com alunos, falaremos sobre alguns tipos de atividades.
Trabalhos feitos à mão
Para começar, um bom exemplo de aplicação do movimento maker é o trabalho manual. Esse tipo de tarefa pode ser realizado por alunos de diversas faixas etárias e ajuda na coordenação motora, desenvolvimento da criatividade, percepção de espaços, entre muitos outros benefícios.
Os professores de alunos mais novos podem trabalhar conceitos de reciclagem. Assim, é possível utilizar materiais recicláveis para criar brinquedos, por exemplo. Já os professores de séries mais avançadas podem instruir os alunos na construção de maquetes.
Feira de Ciências e exposições
Outro tipo de atividade maker que pode ser implementado em escolas é a Feira de Ciências. Nesse tipo de evento, os estudantes podem trabalhar a interdisciplinaridade e a criação de robôs, por exemplo. Também é possível colocar na prática os conceitos de química em experimentos interessantes.
Já as exposições podem servir como um momento em que as criações dos alunos são expostas. É uma ótima oportunidade para incentivar a participação dos pais na vida escolar. Os criadores podem explicar suas obras de arte para os visitantes e interagir entre si.
Criação de hortas
Na sequência, outra atividade maker é a criação de hortas. Elas não exigem muito investimento, apenas um espaço com terra livre que pode ser no território da própria escola. Essa é uma excelente maneira de explicar conceitos de morfologia vegetal, biologia e educação ambiental.
Também é possível ensinar aos alunos como fazer uma horta vertical para quem não tem espaço em casa ou para aqueles que moram em apartamentos. Conceitos de biologia e de química, como o ciclo do carbono, a fotossíntese e a fisiologia vegetal, podem ser mais bem compreendidos na prática.
Educação financeira na prática
A educação financeira é uma parte que merece atenção, visto que até mesmo adultos possuem certa dificuldade em lidar com dinheiro. Essa área pode ser trabalhada por meio de jogos, simulações ou teatros.
Alguns exemplos de assuntos que podem ser abordados são: como mexer em caixas eletrônicos, como funcionam os cartões de crédito, taxas de juros, como declarar imposto de renda, administração de renda, o que é educação financeira, como economizar dinheiro…
Culinária
As atividades extracurriculares também podem ser incentivadas nas escolas. Na verdade, os alunos podem aprender não apenas a preparar receitas interessantes, mas também a entender alguns conceitos teóricos, como a fermentação.
Com esse tipo de atividade, é possível a criação de feiras gastronômicas e de ciências. Nelas, os alunos podem explicar conceitos químicos que estão envolvidos na culinária.
Cultura maker aliada à tecnologia
Como dissemos anteriormente, a cultura maker não está à parte da tecnologia. Sendo assim, é possível incentivar atividades maker que utilizam a tecnologia. Um bom exemplo é a criação de aplicativos, que pode ser trabalhada no ensino médio.
Outras tarefas também podem ser incentivadas, como a criação e edição de fotos e vídeos. Ou ainda, a criação de apresentações de slides, que serão úteis para a vida acadêmica dos estudantes.
Aprendendo a cuidar do meio ambiente
Como o conceito maker estimula a sustentabilidade e, consequentemente, a educação ambiental, atividades que incentivam a consciência ambiental são bem-vindas. Então, é possível criar mutirões em prol da reciclagem e do reuso, instalando lixeiras coloridas.
Outro tipo de atividade maker que pode ser desenvolvida pelos alunos é a criação de panfletos informativos. Assim, os alunos podem abordar a importância da economia de água e de energia, da separação de materiais recicláveis, etc. Outro conceito que pode ser trabalhado é a criação e uso de composteiras.
A partir de que idade pode-se implementar a cultura maker
Com certeza, essa é uma dúvida de muitos pais. A melhor parte da cultura maker na educação é que ela pode ser utilizada com alunos de todas as idades, desde a educação infantil até o ensino médio.
Cabe aos professores, gestores e outros educadores decidirem quais atividades maker são mais adequadas para cada faixa etária.
Educação infantil
Nessa faixa etária, a criança está na fase de desenvolver a coordenação motora. É uma etapa importante para a interação social e autonomia.
Sendo assim, é uma ótima fase para estimular a parte lúdica e criativa da criança. Atividades como lidar com ingredientes e preparar receitas, criação de brinquedos, pintura, atividades com massinha de modelar são ótimos meios de inserir a cultura maker na educação infantil.
Um ponto que ainda deixa os professores e educadores receosos é a segurança das crianças. Mas saiba que há atividades maker que não colocam os pequenos em risco algum. Muito pelo contrário, as atividades manuais e as brincadeiras contribuem muito com o desenvolvimento infantil.
Ensino fundamental
Nessa etapa, os alunos começam a entrar mais em contato com a teoria e conceitos das disciplinas. Por isso, a cultura maker é indispensável para ajudar na compreensão, já que estimula o aprendizado com a prática.
Então, atividades como criação de maquetes, projetos de casas sustentáveis, circuitos que utilizam a eletricidade, fabricação de velas, desenvolvimento de robôs e carros motorizados são ótimas formas de inserir esse conceito.
O ensino fundamental também é um bom momento para começar a inserir conceitos de sustentabilidade, educação ambiental e financeira. Portanto, vale a pena considerar essas áreas na hora de formular as atividades maker.
Ensino médio
No ensino médio, a cultura maker é muito importante, já que as atividades trabalhadas podem servir como norte na hora de o estudante escolher a sua profissão.
Um bom exemplo de atividade é pedir que cada aluno pesquise sobre determinada profissão e fale sobre ela posteriormente para a turma. Essa apresentação pode ser feita em uma espécie de feira de profissões.
No mais, outras atividades maker que podem ser realizadas com estudantes dessa faixa etária são: laboratórios de robótica, criação de aplicativos, experimentos e muito mais!
A cultura maker no Brasil
A cultura maker já está presente no Brasil há alguns anos. Em 2009, surgiu o primeiro projeto voltado para a cultura maker no país, criado por Paulo Blikstein.
Paulo Blikstein tornou-se engenheiro pela Universidade de São Paulo (USP), mestre pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e doutor pela Northwestern University.
O FabLab@School foi o primeiro programa do mundo a levar laboratórios e espaços maker para escolas de ensino fundamental e médio.
Desde então, a cultura maker foi se tornando cada vez mais conhecida e valorizada no Brasil. Tanto é que escolas de renome começaram a investir em atividades maker para seus alunos.
Hoje em dia, o Ministério da Educação (MEC) já encara a cultura maker como um dos pilares necessários para o fomento da educação. A expectativa é que ela esteja cada vez mais presente nas escolas públicas.
Atualmente, cursos também estão disponíveis para a especialização de professores, gestores e educadores.
A modernização de escolas faz parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e não está relacionada apenas com o implemento de tecnologias, mas também com novas metodologias que estimulam o protagonismo dos alunos.
A cultura maker é um conceito que visa a autonomia e a proatividade das pessoas e tem se mostrado muito eficaz na educação.
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