A dificuldade de concentração em crianças é uma queixa cada vez mais comum em lares e escolas. Longe de ser apenas “agitação” ou “falta de interesse”, a incapacidade de manter o foco pode ter raízes profundas e complexas, envolvendo desde a arquitetura cerebral até dinâmicas emocionais e ambientais.
Logo, compreender o que se passa na mente de uma criança que não consegue se concentrar é o primeiro e mais crucial passo para ajudá-la a desenvolver seu pleno potencial.
A neurociência da atenção: o cérebro em desenvolvimento
Para entender a dificuldade de concentração, é preciso primeiro olhar para o cérebro. A atenção não é uma habilidade única, mas um conjunto de processos complexos orquestrados por diferentes áreas cerebrais, sendo o córtex pré-frontal o grande maestro.
A função do Córtex Pré-Frontal
Localizado na parte da frente do cérebro, o córtex pré-frontal é a sede das nossas funções executivas: planejamento, tomada de decisões, controle de impulsos e, crucialmente, a capacidade de direcionar e sustentar a atenção.
Em crianças, essa região é uma das últimas a amadurecer completamente, um processo que se estende até o início da idade adulta. Isso significa que, biologicamente, as crianças têm mais dificuldade em filtrar distrações e manter o foco em tarefas que não são intrinsecamente estimulantes.
A química da concentração: dopamina e norepinefrina
Dois neurotransmissores, a dopamina e a norepinefrina (ou noradrenalina), desempenham um papel vital na regulação da atenção.
- Dopamina: Conhecida como o neurotransmissor do “sistema de recompensa”, a dopamina está ligada à motivação e ao foco. Níveis adequados nos ajudam a sentir que uma tarefa vale a pena e a persistir nela.
- Norepinefrina: Ajuda a regular o estado de alerta, a vigilância e a prontidão para a ação. É fundamental para “sinalizar” ao cérebro quais estímulos são importantes e merecem atenção.
No Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a condição neurobiológica mais associada à dificuldade de concentração, acredita-se que haja uma desregulação nesses sistemas de neurotransmissores. Isso não significa uma “falta” dessas substâncias, mas sim uma ineficiência na sua comunicação entre os neurônios, especialmente no córtex pré-frontal.
Causas psicológicas e emocionais
Aqui na LUMA Ensino, muitos pais chegam com a queixa de que os filhos não conseguem se concentrar na aula. Muitos já chegam falando em TDAH, mas salientamos que nem toda dificuldade de concentração é TDAH.
Fatores psicológicos e emocionais exercem uma influência poderosa sobre a capacidade de uma criança focar. Essas são:
1. Ansiedade e estresse
Uma criança ansiosa está em constante estado de alerta, com a mente ocupada por preocupações e medos. Seu cérebro está focado em “escanear” o ambiente em busca de possíveis ameaças, tornando quase impossível direcionar a atenção para uma lição de matemática ou para a arrumação do quarto.
O estresse crônico, seja por problemas familiares, bullying ou pressão escolar, libera hormônios como o cortisol, que em excesso podem prejudicar o funcionamento do córtex pré-frontal.
2. Depressão infantil
A depressão em crianças muitas vezes não se manifesta com a tristeza clássica vista em adultos. Pode aparecer como irritabilidade, perda de interesse em atividades prazerosas e, significativamente, uma grande dificuldade de concentração e falta de energia. A mente deprimida tem dificuldade em engajar e encontrar motivação.
3. Traumas e eventos estressantes
Experiências traumáticas ou mudanças significativas na vida da criança (divórcio dos pais, mudança de escola, perda de um ente querido) podem deixá-la em um estado de sobrecarga emocional, consumindo os recursos cognitivos que seriam necessários para a concentração.
4. Falta de motivação e conexão
A criança precisa ver um propósito no que está fazendo. Se uma tarefa é percebida como irrelevante, chata ou excessivamente difícil, o cérebro, especialmente o cérebro em desenvolvimento, terá dificuldade em alocar recursos para ela.
Esse é o caso de muitas crianças que não se sentem à vontade com o modelo de ensino tradicional, engessado e padronizado para todos.
Atenção: fatores externos também impactam a concentração
O ambiente onde a criança vive, brinca e estuda é determinante para sua capacidade de atenção.
Excesso de estímulos
Vivemos em uma era de hiperestimulação. Telas piscando, notificações constantes e um excesso de brinquedos podem fragmentar a atenção e acostumar o cérebro a pular de um estímulo para o outro, dificultando o foco sustentado.
Rotina desestruturada e sono inadequado
O cérebro infantil prospera com a previsibilidade. A falta de rotinas claras para estudo, brincadeiras e, principalmente, para o sono, gera um estado de desorganização interna.
O sono é fundamental para a consolidação da memória e a “limpeza” cerebral. Uma noite mal dormida afeta diretamente a capacidade de atenção no dia seguinte.
Alimentação
Uma dieta pobre em nutrientes essenciais é rica em açúcares e alimentos ultraprocessados pode levar a picos e quedas de energia, afetando a estabilidade necessária para a concentração.
Ambiente familiar
Um lar com muitos conflitos, desorganização ou falta de apoio emocional pode ser uma fonte constante de estresse e distração para a criança.
Dados e estatísticas: a realidade brasileira
Para além disso, compreender a prevalência de condições associadas à falta de concentração ajuda a dimensionar o problema. O TDAH, no entanto, é a condição mais estudada nesse contexto.
Prevalência do TDAH
A prevalência mundial de TDAH em crianças e adolescentes varia, mas estudos apontam para uma média em torno de 5%. No Brasil, a situação é similar.
Um relatório técnico do Ministério da Saúde, através da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), cita que o TDAH afeta cerca de 3% a 5% das crianças em idade escolar no país.
Aumento de diagnósticos
Especialistas alertam para um aumento significativo no número de diagnósticos, o que levanta um debate importante sobre a medicalização na infância e a necessidade de diagnósticos diferenciais cuidadosos, que considerem fatores emocionais e ambientais.
Impacto na saúde mental
Um estudo da The Lancet Regional Health – Americas, em parceria com a Fiocruz Bahia, destaca o crescimento de problemas de saúde mental em jovens, com 75% dos transtornos mentais começando na infância. A dificuldade de concentração é frequentemente um sintoma sentinela para quadros de ansiedade e depressão.
O que fazer? dicas reais e práticas para pais
Ajudar uma criança com dificuldades de concentração exige uma abordagem multifacetada, paciente e empática.
1. Estrutura e rotina são suas maiores aliadas:
- Crie um quadro de rotina visual: Use imagens e cores para montar um cronograma diário/semanal. Previsibilidade diminui a ansiedade e libera “espaço mental” para o foco.
- Horários consistentes: Mantenha horários regulares para acordar, dormir, comer, fazer a lição de casa e brincar. O sono é inegociável: crianças de 6 a 12 anos precisam de 9 a 12 horas de sono por noite.
2. Adapte o ambiente
- Canto do estudo: Crie um local fixo para as tarefas escolares, livre de distrações. Sem televisão ligada, sem celular por perto (a menos que seja para a tarefa) e com boa iluminação.
- Organize o quarto: Um ambiente organizado ajuda a organizar a mente. Use caixas etiquetadas e envolva a criança no processo de arrumação.
3. Divida e conquiste
- Quebre grandes tarefas: “Arrumar o quarto” pode ser paralisante. Divida em “Guardar os brinquedos na caixa”, “Colocar os livros na prateleira”, “Levar a roupa suja para o cesto”. O mesmo vale para a lição de casa.
- Use um timer (técnica pomodoro adaptada): Proponha períodos curtos de foco (15-20 minutos) seguidos por uma pequena pausa (3-5 minutos) para se espreguiçar, beber água ou dar uma volta.
4. Fortaleça o cérebro através de brincadeiras:
- Jogos de tabuleiro: Exigem estratégia, atenção às regras e espera pela sua vez.
- Quebra-cabeças e lego: Estimulam a concentração, a percepção visual e a resolução de problemas.
- Jogo da memória: Um clássico para treinar a memória de trabalho e o foco.
- Atividades físicas: Correr, pular, nadar. A atividade física regular melhora o fluxo sanguíneo para o cérebro e aumenta os níveis de dopamina e norepinefrina, melhorando a função executiva.
5. A comunicação é a chave:
- Valide os sentimentos: Em vez de dizer “Se concentre!”, tente “Eu vejo que está difícil focar nisso agora. O que está passando pela sua cabeça?”.
- Reforço positivo: Elogie o esforço, não apenas o resultado. “Eu adorei a dedicação que você colocou para começar sua lição!” é mais eficaz do que “Finalmente você terminou!”.
- Contato visual: Ao dar uma instrução, abaixe-se até a altura da criança, toque em seu ombro e peça que ela olhe para você. Dê uma instrução clara e curta por vez.
Quando procurar ajuda profissional?
É fundamental que os pais saibam identificar quando a situação exige uma avaliação profissional. Procure ajuda se:
- A dificuldade de concentração causa prejuízo significativo na vida escolar e social da criança.
- Os problemas persistem por mais de seis meses e ocorrem em diferentes ambientes (casa, escola, etc.).
- A criança demonstra sinais de baixa autoestima, ansiedade severa ou tristeza persistente.
- A escola relata constantemente que a criança não consegue acompanhar a turma devido à desatenção.
Os profissionais que podem ajudar incluem pediatras, neuropediatras, psicólogos e psicopedagogos. Eles poderão fazer uma avaliação completa, descartar outras condições e propor o plano de intervenção mais adequado, que pode incluir terapia comportamental, orientação aos pais e, em alguns casos, tratamento medicamentoso.
Como a LUMA ensino pode te ajudar
Entender as causas e aplicar dicas práticas é um passo gigante, mas muitas vezes a jornada exige um acompanhamento especializado e individualizado, principalmente quando a dificuldade de concentração é na escola.
Se você se identifica com os desafios descritos e sente que seu filho poderia se beneficiar de um suporte direcionado para desenvolver não apenas a concentração, mas também a organização, a autonomia e o prazer em aprender, a LUMA Ensino está aqui para ajudar.